Apesar da reclamação da falta de segurança, nas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP) a cidade de Piripá quase não possui registros de violência – no entanto, segundo a população, muito desse resultado tem a ver com as constantes negativas do delegado em registrar as ocorrências.
Disponíveis ao público, os dados seguem uma quantidade de notificações semelhantes a de cidades do porte de Piripá.
No município, em 2014, houve um homicídio doloso, um estupro e cinco roubos/furtos de veículos; no ano seguinte, apenas um homicídio doloso e dois furtos de veículos; em 2016, uma pessoa foi assassinada, tentaram matar outra e os casos de furto a veículos subiram para nove. Este ano, segundo a SSP, não foram registradas ocorrências.
Quatro remoções
O delegado já foi removido do cargo quatro vezes (em 2007, 2013, 2014 e 2015), sendo transferido para outra cidade, porém, conseguiu reverter a situação na Justiça em 2016, após conseguir liminar (decisão temporária).
Em favor dele, o delegado tem o Ministério Público do Estado (MP-BA), autor, em 2014, de uma ação civil pública contra o Governo da Bahia, julgada procedente em 2015. A ação determina, dentre outras coisas, que o Estado forneça estrutura de pessoal e material para que o delegado possa exercer as funções.
Trabalho dificultado
Florisvaldo diz que sua atuação como delegado em Piripá tem sido dificultada ano a ano. “Quando cheguei, tinha ainda um agente e um escrivão. Hoje, sou sozinho, moro na cidade, sou delegado 24 horas. Mas o que acabei me transformando mesmo foi num mero lavrador de boletins de ocorrência, pois não tenho como fazer investigações, devido à falta de estrutura”, declarou.
O delegado disse ainda que em 2008 fez curso de pós-graduação em Direito Público e Controle Municipal, tendo a monografia como tema “O combate à corrupção em Prefeituras Municipais: uma análise sobre a administração de Piripá em 2007 e 2008”.
“Usei as informações do meu trabalho para fazer o meu trabalho acadêmico”, disse o delegado, que, ao ser questionado sobre os registros da SSP, disse que “elas não apresentam a realidade e que só este ano realizou mais de 200 registros, entre fatos delituosos e outros, como perda de documentos”.
Queima de arquivo
“É um grupo de pessoas ligadas a políticos que não gostam de mim na cidade. Em 2007, logo depois que entrei, consegui que a Justiça emitisse um mandado de busca e apreensão de documentos da Prefeitura sobre processos fraudulentos de pagamentos, superfaturados, dentre outras ilegalidades. Na época, tentaram por fogo na delegacia para tentar destruir as provas”, contou. “É esse mesmo grupo que manda na cidade hoje”, complementa delegado Florisvaldo.
O procurador da Prefeitura de Piripá, advogado Saulo de Tarso, negou que a gestão do prefeito Flávio Oliveira Rocha (PTB) tenha relação com as manifestações. “Quem está fazendo isto é o povo, que não aguenta mais. A nossa gestão é de oposição à de Jeová, não temos nada a ver com ele”, comentou o procurador.
Em nota, a Prefeitura diz que está disposta a “recuperar a delegacia e fornecer funcionários para trabalhar no local”, mas “isto só será feito se um novo delegado for designado ao Município, pois se o mesmo permanecer, correrá o risco de o prédio ser depredado pela população (novamente)”.
Porque a Justiça quer
A Polícia Civil, também em nota, declarou que “o delegado Florisvaldo Nery da Silva só trabalha na Delegacia de Piripá por ordem da Justiça”.
O delegado-geral Bernardino Brito, da Polícia Civil, recebeu há algumas semanas uma comissão de representantes da sociedade de Piripá, que fazia uma série de restrições ao trabalho do delegado.
Só sai aos 70
Brito narrou que “o delegado apresentou, durante dois anos, atestados médicos, o que motivou sua aposentadoria por invalidez. Florisvaldo, porém, levou o caso à Justiça e esta, mais uma vez, mandou que ele voltasse ao cargo”.
O CORREIO questionou Florisvaldo sobre os atestados e ele disse que apresentou os documentos de 2014 a 2016, devido a um problema no ombro e outro no joelho. Disse ter feito cirurgias, contudo, e que está apto para o trabalho até a aposentadoria compulsória, aos 70 anos.